4.9.11

A Hora e a Vez do Leitor [Resenha]


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ZAPPONE, Mirian Hisae Yaegashi. Estética da Recepção in: BONNICI, Thomas & ZOLIN, Lúcia Osana (Orgs.). Teoria Literária: Abordagem histórica e tendências contemporâneas. 3º ed. Maringá: Eduem, 2009. Cap. 8, p. 153-162.


            Na história da crítica literária até a primeira metade do século XX, tanto o escritor, como o texto em si, tiveram seus momentos de protagonistas no divã das discussões acerca da arte literária. Só a partir da década de 60 e 70 do mesmo século é que outra entidade passa a ameaçar a “autoridade” destes dois: o leitor. Zappone (2009), citando Eagleton (1989, p. 80) nos apresenta esses três grandes momentos da Crítica Literária, o primeiro que vai até o século XIX e é representado pelos “estudos biográficos do autor”, o segundo do início do século XX e é marcado pela excessiva “preocupação com o texto” (Formalismo, New Cristicism) e o terceiro momento, de tendências mais modernas onde os estudos privilegiam o leitor e a recepção da obra.

            Apesar de este terceiro momento ter-se organizado em uma teoria apenas por volta da década de 60 e 70, desde o inicio do século, como nos diz Zappone (2009, p. 153), já havia uma preocupação teórica com o “redimensionamento das noções de autor, de texto e de leitor”. Preocupação esta que brotava com as novas abordagens lingüísticas que surgiam, como a Pragmática, a Teoria da Enunciação e a Análise do Discurso. Todas elas semelhantes ao ponto de não se aterem aos elementos lingüísticos como únicos produtores de sentido do texto. Desta forma, podemos dizer que o “contexto teórico” do século XX propicia o aparecimento de uma nova forma de estudar a literatura: a Teoria da Recepção.

            A Teoria da Recepção é dividida em várias teorias menores, desta forma alguns autores falam em “Teorias da Recepção”. O que elas possuem em comum é o fato de todas partirem da recepção da obra para realizar seus estudos, mas diferem sobre o que enfocar. Zappone (2009) enumera as principais: a “Estética da Recepção”, de Hans Robert Jauss, o “Reader-Response Cristicism”, de Stanley Fish, Wolfgang Iser e Jonathan Culler e a “Sociologia da Leitura”, de Robert Escarpit. Destes estudos, o de Jauss aparece como o mais significativo em termos de contribuições.

            Após uma análise sobre a crítica formalista e a crítica sociológica, Jauss atesta que ambas as teorias tentaram resolver a dicotomia entre história e estética, mas nenhuma delas conseguiu. Ora por enfatizar demais o caráter estrutural da obra e desconsiderar a condicionante histórica, ora pelo contrário. A solução que ele propõe para a união destes dois aspectos é uma história da literatura baseada nos leitores, ou seja, nos espectadores, no público. Para fundamentar essa nova metodologia, Jauss escreve suas famosas sete teses.


A primeira tese toca no ponto da historicidade da literatura. A obra não existiria por si só, mas apenas quando é lida. A segunda tese fala de um conjunto de conhecimentos literários e de mundo que o leitor detém ao ler uma obra e estabelecem seu “horizonte de expectativas”. Na terceira tese, Jauss fala do conceito de “distância estética” que quanto maior em relação ao “horizonte de expectativas” mais significativa será a obra. Para exemplificar o oposto, a autora fala dos best-sellers e dos romances de banca de revistas que não causam esse estranhamento, não rompem o “horizonte de expectativas” dos leitores. A quarta tese fala que a própria consciência que interpreta um texto está envolvida num processo histórico que afeta o modo que esse texto é lido. “Só se pode compreender um texto quando se compreendeu a pergunta para a qual ele constituiu uma resposta” (JAUSS, 1994, p.37).  A quinta tese se refere ao caráter diacrônico da teoria de Jauss. Ele propõe que é necessária antes uma história da recepção para se entender a história da literatura. A sexta tese trata do sincronismo e diz que mesmo se estudando a história da recepção pelos estudos diacrônicos, deve-se também considerar o momento de aparição da obra. A sétima e última tese reafirma a sexta e diz que, além disso, deve se levar em consideração “os efeitos da literatura na vida prática de seus receptores” (ZAPPONE, 2009, p. 161).

            Assim como outras teorias, a Estética da Recepção trouxe avanços metodológicos em relação a teorias anteriores, mas ainda assim não se mostrou completa e acabada. Segundo a autora a teoria de Jauss esbarra na caracterização do leitor. A autora também salienta que o “horizonte de expectativas” é pressuposto por Jauss e pode não corresponder na realidade as suas aspirações metodológicas. Zappone (2009) assumindo a idéia de que a Estética da Recepção de Jauss, apesar de suas limitações, parte de um espaço amplo para que se pense a literatura como categoria histórica e social, portanto em contínua transformação, a valida em sua crítica aos modelos tradicionais.

Rodrigo Morais Leite

Nenhum comentário: